As redes sociais e seu impacto na cadeia de suprimentos
Que vivemos em um mundo ultraconectado não é uma novidade, mas, para os operadores de cadeias de suprimentos, o rápido avanço tecnológico vivenciado nas comunicações trouxe um impacto talvez inesperado: a importância das redes sociais na rotina do Supply Chain.
Na era das redes, os estoques precisam estar preparados para a procura repentina de um item que, por acaso, pode viralizar em função de uma ação de social media. Da mesma forma, as redes podem ser o catalisador de cobranças dos consumidores por conta de atrasos em entregas de e-commerce e da exigência por posicionamentos da marca e/ou dos fornecedores.
A mudança de comportamento social e tecnológica traz a necessidade de mapear as oportunidades e os riscos que as redes sociais trazem para a cadeia de suprimentos.
Qual a dimensão das redes sociais no Brasil?
O Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais no mundo, segundo levantamento da Comscore. Em 2023, a estimativa era de que 131,5 milhões de pessoas tivessem contas ativas em pelo menos uma rede social no país, o que representa mais de 61% da população.
Junto com as redes sociais, o e-commerce também se consolida, a cada ano, como uma alternativa para compras que cai no gosto do brasileiros. De acordo com a Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABCOMM), em, 2023, mais de 87 milhões de brasileiros fizeram compras virtuais, em um volume de mercado que atingiu R$ 185,7 bilhões.
Esses números dão a dimensão da importância que as redes sociais e o e-commerce possuem para o comércio no Brasil.
Como conteúdos virais podem impactar o supply chain?
Um exemplo de conteúdo que viralizou e afetou a distribuição de produtos ocorreu em 2023, com o hidrante labial Carmed Fini, uma novidade lançada pela farmacêutica Cimed. O produto trazia os tradicionais hidratantes labiais da marca com sabor das famosas balas fini: beijo, banana e dentadura.
Após viralizar nas redes sociais, principalmente no TikTok por meio de influenciadores, o Carmed Fini se esgotou nas farmácias e pontos de venda de todo o Brasil. Segundo a Cimed, o volume de vendas esperado para o ano foi atingido em apenas 20 dias.
A expectativa de vendas no primeiro mês de disponibilização do produto era de R$ 8 milhões, mas ela atingiu a marca de R$ 40 milhões, 5 vezes mais do que as projeções.
Isso levou a empresa a iniciar uma operação para colocar um novo lote de produtos no mercado e estudar a possibilidade de aquisição de um novo equipamento para acelerar a produção, num claro exemplo de como as redes sociais e os conteúdos virais podem pegar de surpresa o supply chain das companhias.
Outro caso prático da relação entre o boom das redes sociais e a cadeia de suprimentos foi vivenciado em 2024, no período de carnaval, pela Editora Record e pela Amazon.
A Portela, tradicional escola de samba carioca, desfilou na avenida com um enredo inspirado no livro Um Defeito de Cor, romance de autoria de Ana Maria Machado. O emocionante desfile da agremiação gerou burburinho nas redes, onde começou a circular o nome da obra, fez explodir o interesse pelo livro.
Como resultado, a busca pelo romance disparou, levando ao esgotamento dos exemplares tanto na Amazon, como na própria editora da obra, a Record, que divulgou que uma nova edição seria disponibilizada, às pressas.
O caso do livro Um Defeito de Cor exemplifica uma situação imprevista, que surpreendeu a fabricante do livro e um dos principais distribuidores. Mas ele serve de alerta para o preparo e o forte elo de comunicação que deve haver entre equipes de comunicação e marketing e o setor de suprimentos das organizações.
Isso reforça a necessidade de estar preparado para a realidade do mundo ultraconectado.
Ações de marketing devem conversar com o supply chain
É muito comum que equipes de marketing trabalhem com a perspectiva de produzir conteúdos virais para aumentar o interesse dos consumidores por um produto ou serviço. No entanto, o planejamento dessas ações, preferencialmente, deve ser desenvolvido de forma coordenada com o setor de suprimentos da organização.
Afinal, se toda a ação de marketing é projetada com o objetivo de atingir o sucesso, ela será pouco efetiva se aumentar o interesse por um produto que não existe, ou cujo estoque não é suficiente para atender ao acréscimo de demanda.
Por isso, idealmente, a cadeia de suprimentos de uma organização deve estar na mesa junto com a equipe de marketing, discutindo possibilidades, soluções e possíveis entraves às ações de venda. Assim, aumentam as chances de sucesso na aplicação das estratégias e diminui a possibilidade de uma ação se tornar um sucesso nas redes, mas um fracasso na concretização das vendas.
Como o supply chain deve se preparar?
Além de um bom nível de comunicação com as equipes de marketing, internamente, o supply chain também deve se preparar para responder de forma rápida e concreta às demandas em tempos de redes sociais.
Vale lembrar que o Código de Defesa do Consumidor prevê que a falta de um produto em estoque não impede que o comprador exija a entrega do item que foi adquirido.
Algumas medidas que podem fortalecer a capacidade de resposta da cadeia de suprimentos são:
Criação de estoque de segurança - As redes sociais já demonstraram o poder de movimentar o setor varejista, por isso, a montagem de um estoque de segurança é uma prática a ser considerada.
Claro, isso depende da natureza do produto que cada empresa comercializa, uma vez que alguns itens, como os alimentícios, podem não se beneficiar de um longo período de armazenamento. Porém, em setores em que a estocagem é possível, isso cria uma margem de segurança para a operação.
Automatizar os centros de distribuição - A aquisição de um maquinário moderno, capaz de realizar a separação de pedidos com mais agilidade, também pode ajudar o supply chain a oferecer respostas mais ágeis a uma demanda extra causada por um viral na internet.
Uma forte tendência é a adesão dos estoques ao RFID, sigla em inglês para identificação por radiofrequência, método que agiliza a integração do estoque.
Estabelecer planejamento de suprimento e resposta - Esse é um elemento da cadeia de suprimentos que já existia, mas que, com a pandemia de Covid-19, revelou algumas fragilidades. Atualmente, o planejamento de suprimentos e respostas vem sendo transformado digitalmente, com o uso de inteligência artificial e machine learning, para oferecer maior capacidade preditiva e analítica.
Eficiência na gestão de fornecedores - Fundamental em todas as dimensões do supply chain, a gestão de fornecedores também pode contribuir para a agilidade da operação diante da demanda de um viral.
Para ganhar em velocidade e qualidade juntos aos fornecedores, o Supplier+ é uma plataforma que facilita o mapeamento de riscos junto aos fornecedores e permite a avaliação ESG dos parceiros. Definitivamente, uma plataforma que ocupa posição central no cenário de desafios e exige respostas ágeis dos tempos atuais.